A anatomia de Style: Os amores retroativos segundo Taylor Swift

Para melhorar a experiência, leia esse artigo com esse arquivo instrumental tocando ao fundo.
Eu me lembro bem dos tempos do Ensino Médio em que minha melhor companhia e parceira diária de descobertas intimidantes e emoções intensas de primeira vez era Taylor Swift, e 1989 foi meu égide sagrado contra as probabilidades desconhecidas do amadurecimento.
De volta àqueles dias, a estrela que me guiava nas caminhadas noturnas através do meu coração era Style: um hino pop que sutil e quase discretamente me fez questionar as minhas percepções sobre o amor. Me lembro de enfeitiçadamente ouvir a música no repeat por horas — além de assistir ao vídeo-clipe e ficar completamente encantado com algo que eu não sabia o que era.
Acaba por ser que esse é intencionalmente o design de Style. Taylor Swift tem uma abordagem metafórica densa quando se trata de expressar o que está flutuando em sua mente e coração, e Style é uma peça de museu na sua coletânea artística de simbolismo.
Na verdade, é essencialmente disso que essa música trata: uma obra de arte arquitetada para introduzir uma perspectiva pessoal de um sentimento que Taylor carrega em seu peito. Artistas — especialmente cantores — têm uma responsabilidade moral de tornar sua arte identificável, de modo que o público se identifica com o material que está apresentando: é como dar voz a coisas das quais não entendemos bem de onde vêm. Essa parte específica desempenha um papel fundamental na definição de nossas visões coletivas sobre diferentes tópicos como uma sociedade — como a forma como lidamos com o amor, ou com a falta. Mais do que uma cantora, Taylor Swift é uma porta-voz de todos nós.
Style começa evocando ambivalência em sua melodia. Nos primeiros trinta segundos, como uma introdução de cortesia (ou uma preparação?), Taylor nos deixa sem qualquer voz ou letra — apenas um riff sequaz que estabelece um formato de “pergunta e resposta” em sua transição de acordes que acompanha a música inteira, involuntariamente fazendo você se perguntar: “O que há de errado em algo que parece tão bom?”, enquanto a guitarra pergunta, “Onde você está?” — e taciturnamente responde: “Estou aqui”.
“Eu amo que a música soa da mesma forma que esse sentimento sentiu [em mim]. […] A música fala por si mesma ” Taylor para Ryan Seacrest
No videoclipe, a primeira cena estabelece isso em uma afirmação clara: esta é uma tradução do que está acontecendo na mente de Taylor.

Se você gosta do trabalho dela, sabe que Taylor historicamente escreveu sobre seus relacionamentos e amantes na perspectiva de uma vítima ferida — você pode dizer por All Too Well. Em Style, isso é diferente. Como a própria Taylor apontou,
“Eu disse: Eu ouvi, oh!
Que você estava por aí com alguma outra garota
(Alguma outra garota)Ele diz: O que você ouviu é verdade, mas eu
Não consigo parar de pensar em você, e eu
Eu disse: Eu já passei por isso algumas vezes” Letra de Style
Aqui, Taylor está assumindo uma posição de maturidade, ainda como uma pessoa vulnerável: “já estive nessa algumas vezes”. Em seu trabalho anterior, ela escrevia sobre ser traída e os seus sentimentos violados, mas aqui, ela os leva para uma caminhada silenciosa no frio da autoconsciência.
Ela deliberadamente descreve um amor torto, mas desta vez pela perspectiva de um insider — ela sabe que ambos compartilham do mesmo sentimento, assim como ambos cometeram erros.
“Eu nunca teria dito algo assim em um álbum anterior, meus álbuns anteriores sempre foram meio como “eu estava certa, você estava errado, você fez isso, isso me fez sentir assim”, uma espécie de senso de justiça , de certo e errado em um relacionamento, e o que acontece quando você cresce é que você percebe que as regras em um relacionamento são muito borradas, as coisas se tornam muito complicadas muito rapidamente, e nem sempre há um caso de quem está certo e quem está errado” Taylor para Ryan Seacrest
E é aqui que esse sentimento de ambivalência está intrinsecamente enraizado na estrutura da música. Na primeira metade do refrão, se ouvem acordes em geral positivos, combinando com o simbolismo imagético que perpassa o lirismo da música:
[D Maior :)] Você tem aquele olhar sonhador de James Dean em seus olhos
[G Maior :)] E eu tenho aquela coisa clássica de lábio vermelho que você gosta
[D Maior :)] E quando nós partimos, voltamos todas as vezes / Porque nós nunca saímos de moda
No entanto, na segunda metade, algo muda bruscamente com um B Menor oxímoro apresentando uma pergunta conflitante: “essa música é realmente feliz?”. Na linguagem de Taylor, a pergunta é: “estamos realmente felizes com isso?”. Spoiler: não, não estamos!
E quando nós [B Menor :(] partimos, voltamos todas as vezes / Porque nós nunca saímos de moda
Mais do que isso, é como se a melodia de Style te puxasse e perguntasse: “Você conhece essa sensação?”, nos deixando com uma incógnita sentimental.
Isso me leva à história por trás de Style. Na sua letra, Taylor descreve uma paixão etérea que não pode acontecer. Eles combinam juntos como preto e branco, eles são obcecados um pelo outro, mas, apesar da conexão, independentemente do quanto tentam, eles nunca conseguem encontrar sincronia.
Essa atmosfera impalpável quase ‘espiritual’ é amplamente representada no videoclipe. Por meio de flashbacks rápidos de memórias de quando eles estavam juntos (e felizes e frágeis) até cenas em que eles explicitamente não podem estar — e avidamente desejam que estivessem — , o vídeo não segue um enredo linear, pela razão grosseira do que essa história é sobre: ela ainda não terminou, a linha do tempo é confusa e parece impossível um dia chegar a uma conclusão.





Constantemente no vídeo, vemos eles substituindo suas próprias imagens de si mesmos por imagens do outro. Se você já teve esse tipo de amor, sabe o que Taylor está querendo dizer: você vê essa pessoa em todos os lugares e em tudo que faz, nas coisas mais simples, mesmo que esteja tentando seguir em frente com a vida. Mais que isso, aquela pessoa está tão impregnada em você que você se perde da sua própria identidade e começa a questionar quem é de verdade.
A razão por trás de não poderem estar juntos não é diretamente abordada, mas parece ser consensual entre ambos. Em uma analogia com a realidade, eu geralmente associo Style a um obstáculo enfrentado por muitos amantes: circunstâncias. Todo mundo tem um amor que não pôde vingar devido a circunstâncias fora de controle — casais LGBT+ que o digam. Mais adiante disso, parece haver um consenso geral de que, pelo seu caráter imprudente, amores retroativos precisam ser ocultados, o que reflete na mídia e em nossas vidas, porque muito provavelmente nós os ocultamos para nós mesmos internamente.

Apesar de Taylor nunca nomear nomes, ela também é conhecida pelos easter eggs e pistas que deixa para desenhar a conexão entre a narrativa de sua vida pessoal e o seu trabalho. Nesse caso, ela está explicitamente descrevendo seu relacionamento com Harry Styles. A primeira dica é o colar com pingente de avião que Taylor e Harry trocaram entre si, que aparece no início do vídeo:


Posteriormente no seu álbum, Taylor aborda a mesma referência simbólica em Out Of The Woods e seu videoclipe:
“Olhando agora
No último mês de Dezembro (último Dezembro)
Estávamos predestinados a cair aos pedaços
E nos unirmos novamente (novamente)
Ooh, seu colar no meu pescoço
Aquela noite que não conseguíamos bem esquecer
Quando decidimos (decidimos)
Tirar os móveis do caminho para podermos dançar
Baby, como se tivéssemos alguma chance
Dois aviões de papel voando” - Letra de Out of The Woods
O “Dezembro” de que ela está falando é a viagem que ela e Harry fizeram para esquiar nas montanhas, onde Harry sofreu um acidente e feriu o seu queixo.
Você se lembra quando pisou no freio antes da hora?
Vinte pontos em um quarto de hospital
Quando você chorou, baby, eu chorei também
Mas quando o sol nasceu, eu estava olhando para você
Lembre-se quando não conseguimos aguentar o ardor
Eu saí andando e disse: Estou te libertando
Mas os monstros, na verdade, eram apenas árvores
E quando o sol nasceu, você estava olhando para mim- Letra de Out of The Woods

Rumores indicam que Taylor Swift e Harry Style se separaram em janeiro de 2013 em uma viagem ao Caribe que não terminaram juntos, por razões desconhecidas. Felizmente, Taylor registrou seus sentimentos sobre esse amor atemporal para nós nos identificarmos.
Em Style, Taylor compara esses amores às roupas que guardamos afetuosamente em nossos armários, mesmo depois de anos, depois que nossos corpos e gostos mudaram e somos pessoas diferentes, esperançosos pelo dia em que as vestiremos novamente em um brinde aos velhos tempos: as tendências que nunca saem de moda para nós.
“A música é realmente sobre esses relacionamentos que nunca terminam de verdade. Você sempre terá essa pessoa, aquela pessoa que você acha que pode interromper o seu casamento e ficar como “não faça isso, porque ainda não terminamos”. Acho que todo mundo tem uma pessoa que meio que entra e sai de sua vida, e a narrativa nunca termina verdadeiramente ” Taylor para o The Morning Show
Neste trabalho artístico, Taylor novamente conseguiu representar vocal e visualmente um sentimento que a maioria de nós sente em algum momento de nossas vidas e é essencialmente um qualia, e fez isso com maestria, usando seus melhores artifícios simbólicos e metafóricos para desvelar essa narrativa.
Style é sobre aquela uma pessoa que pousa em suas roupas e cabelos como gotas de chuva em uma tempestade repentina e, depois da tempestade, mesmo depois que o sol volta, você ainda está lá, molhado, se perguntando o que vai fazer a respeito para seguir adiante e, mesmo mais tarde, ainda está coberto por vestígios que entregam a verdade sobre onde você esteve nas últimas horas.